WUNENBURGER, Jean-Jacques. Educação imaginativa ou a utopia pedagógica de Gaston Bachelard
DOI:
https://doi.org/10.31416/cacto.v1i2.288Palavras-chave:
formação científica, formação onírica, educação imaginativa, pedagogia bachelardianaResumo
O autor nos informa sobre as dispersas análises bachelardianas sobre a educação encontradas nas obras epistemológica e poética do filósofo da imaginação, as quais desenhariam uma verdadeira utopia pedagógica, no sentido de uma radicalização das possibilidades de vida, na realização criativa da natureza complexa do homem. Nessa filosofia de duas vias, o espírito humano está dividido em duas esferas de representação opostas, a do conceito e a da imagem, num antagonismo que induz a duas psicologias e duas culturas distintas. Em face disso, Bachelard, reivindicaria dois tipos de formação do espírito, uma que se identifica com a formação científica e outra com o despertar da imaginação poética. Enquanto o esforço da abstração científica exige uma educação ascética, iconoclasta, a fecundidade onírica , por seu turno, requer incitações e condições favoráveis que não são reunidas espontaneamente, pois sonhar não vem somente de forças impulsivas e involuntárias. O Mestre é tão necessário para se aceder das seduções sensíveis à verdade sensível, como para aprender a sonhar. Ao seu lado, também o contato com a natureza e o trabalho onírico sobre as matérias, os quais oferecem à imaginação sua tonicidade. Assim, Bachelard teria se preocupado com uma educação que atualizasse dois universos simbólicos opostos, em duas vias de formação e de maturação específicas. A formação para a abstração, que é inseparável da instituição da escola, para levar o espírito a aprender a resistência e a refutação, para entrar na partilha de um saber racional. E o despertar poético (ou onírico), que, pelo contrário, requer o indivíduo em sua solidão cósmica para aceder mais intensamente às energias criadoras das imagens. Dando lugar a essas duas formações, a escola, para Bachelard, deveria ser o local de uma pedagogia dupla e contraditória, onde fosse possível a apropriação da razão e do sonho, inventando um pedagogia da liberdade, tal como inventou uma pedagogia da razão monitorizada. Uma escola que estivesse direcionada a uma humanidade bi-fronte.